A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hofmann, disse na
quarta-feira (8) que a demarcação de terras indígenas nos estados de Mato
Grosso do Sul, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina também deve ser
submetida a parecer da Embrapa. Recentemente, a ministra já havia pedido ao
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem está subordinada a Fundação
Nacional do Índio (Funai), a suspensão de estudos para demarcação de terras
indígenas no Paraná.
“Nós já temos
mais três estados em que as informações estão sendo levantadas pela Embrapa:
Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E se essas informações
demonstrarem divergências ou não tiverem consistência com o que está sendo
levantado [pela Funai] nos estudos iniciais nós vamos tomar o mesmo
encaminhamento [de pedir a suspensão do processo de demarcação]“, disse Hofmann
ao final da audiência pública na Câmara dos Deputados para tratar da demarcação
de terras indígenas.
A audiência,
na Comissão de Agricultura, Pesca, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, durou
mais de seis horas e foi marcada pela pressão dos integrantes da bancada
ruralista solicitando o mesmo procedimento para outros estados. “Pela isonomia,
solicito a imediata suspensão dos estudos em Mato Grosso do Sul e em todo o
Brasil”, disse o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), pelos ruralistas.
Durante a
audiência, a ministra esclareceu a proposta do governo federal de consultar
mais de um órgão, durante os procedimentos necessários para demarcar reservas
indígenas. Segundo a ministra, o chamado “sistema integrado de informações” vai
servir para fornecer à Presidência da República – que homologa as áreas como
território tradicional indígena – informações mais completas.
Após as
manifestações de vários parlamentares a favor da suspensão das demarcações,
Hoffmann disse que o governo vai avaliar a pertinência de incluir o Maranhão
entre os estados em que haverá estudos complementares. Ela também pediu que o
presidente da comissão, deputado Fernando Lúcio Giacobo (PR-PR), encaminhasse à
Casa Civil as demais solicitações dos parlamentares.
Os integrantes
da bancada ruralista também pediram a aprovação da PEC 215, que transfere do
Poder Executivo para o Congresso Nacional a palavra final sobre a demarcação e
a homologação de terras indígenas e quilombolas. Pela manhã, o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que é
contrário a qualquer mudança constitucional que troque a responsabilidade pela
demarcação das terras indígenas.
O deputado
Sarney Filho (MA) também se manifestou contrário a aprovação da proposta.
Sarney Filho disse que o Congresso não tem competência técnica para fazer
demarcações de terra e que isto seria um retrocesso na legislação ambiental. “O
Congresso não tem condições de criar unidades de conservação e terras
indígenas, pois não têm técnicos suficientes”.
O deputado
Ivan Valente (PSOL-SP) também criticou a PEC e reclamou da ausência de
representantes dos índios na audiência. “Este debate é muito sério e deveria
ter a presença de caciques indígenas aqui também”, defendeu. “Transformaram a
Funai em uma Geni”, complementou Valente lembrando personagem de uma canção de
Chico Buarque de Holanda.
Durante a
audiência, Hoffmann pediu calma a índios, produtores rurais, militantes sociais
e parlamentares a fim de se tentar chegar a uma solução para o conflito. “Eu
não acredito que este tema não tenha lado, que tenha ganhadores e perdedores.
Eu acredito que temos um problema para resolver e, para resolver um problema
dessa dimensão, precisamos da união e da boa vontade de todos”. (Fonte: Agência
Brasil)